quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Primeira Ata - Expressão Corporal e Vocal

Galera, segue a Ata da primeira aula (08/02) de Expressão Corporal e Vocal. Se conseguirmos postar todas as Atas aqui, acho válido as pessoas comentarem suas impressões. Nem sempre durante as aulas conseguimos expressar nossas opiniões.

São Paulo, 08 de fevereiro de 2011

ATA DA PRIMEIRA AULA DE EXPRESSÃO CORPORAL E VOCAL, COM OS PROFESSORES DANIELA ROCHA ROSA E RODRIGO SPINA

Eram 19 horas e 40 minutos quando entrei na sala. Uma sala preta, onde até os interruptores e tomadas eram pretas. O vidro que tem na porta também é preto, mas não pintado com tinta como o restante da sala, e sim com uma folha de papel crepom. A única coisa que não é preto é o teto, apesar que existem lugares que estão bem sujos, com marcar de mãos e dedos. Não chega a ser preto e sim um cinza escuro.

Os professores estavam encostados e/ou sentados no fundo da sala, onde se encontrava a mesa do professor. A sala já estava com bastante gente. Cada um sentado num ponto. A professora Daniela pediu que os alunos colocassem suas respectivas bolsas num canto da sala e que os mesmos tirassem seus sapatos, colocassem suas roupas para o exercício e quem tivesse algum problema com “maus odores” fosse até o banheiro para lavar os pés, axilas e outros membros corporais mal cheirosos que podem interferir na “respiração” dos outros colegas.

Estava sentado no chão tirando meus sapatos, quando alguns alunos do segundo ano entraram na sala e começaram a fazer alguns comentários imitando a professora Daniela. “Não grudem na parede”, “Pessoal, se escutem”, “Galera, se joguem na aula da Dani, porque ela é muito boa e vocês vão adorar a aula dela, o Rodrigo eu não posso falar porque ainda não conheço. Qualquer coisa podem falar comigo” disseram eles. A professora Daniela foi até a porta, cumprimentou alguns alunos, depois a fechou e disse que devíamos conversar bastante com o pessoal do segundo ano, pois eles são sensacionais.

Após falar isso, Daniela deu o start da aula, pedindo com que os alunos andassem pela sala e escolhessem um espaço para se deitar. Não um espaço comum, mas um espaço que o nosso corpo se identificasse. Cada um de nós escolheu o seu pedaço. Deitamos e fechamos os olhos. Daniela pediu que ficássemos na posição de referencia. Na posição de referencia devemos permanecer com as pernas levemente abertas, na mesma linha dos ombros. Os pés devem ficar abertos para fora e os braços encostados no chão com as palmas das mãos viradas para cima. A nossa cabeça, deve estar alinhada com o nosso umbigo. Essa posição deve nos deixar confortáveis. Dani disse para acharmos a nossa posição de referencia e que ela e o professor Rodrigo passariam por nós para nos corrigir, caso estivesse algo errado. Começamos um movimento de inspiração e expiração. Inspirar e perceber o caminho que o ar faz e passa pelo nosso corpo. Observar que lugares ele preenche até o momento da expiração. Na hora de expirar, observar quais são as cores desse ar, e o que aconteceu com o nosso corpo quando eliminamos o ar que nos preenchia. Nesse momento o professor Rodrigo comentou sobre a respiração diafragmática e que vamos trabalhá-la muito no decorrer do ano.

Permanecemos de olhos fechados, deitados, fazendo o movimento de inspirar e expirar. Começamos a observar cada parte do nosso corpo que estava plantado no chão, e as partes que não chegavam a encostar no piso e como a nossa respiração influenciava no nosso objeto de estudo: o corpo no espaço (que naquele momento, estava sendo o chão).

O meu movimento de respiração me relaxou muito. Eu não me sentia mais no chão. Me sentia flutuar. Parecia que todas as partes do meu corpo foram unidas numa só corrente de ar e cor. Não havia mais a sensação única do pé, ou das mãos, ou da minha coluna rente ao chão. Tudo era um só corpo, uma corrente que levitava amarrada ao chão. Nesse momento, a voz da Dani foi despertando cada parte do nosso corpo. Os dedos dos pés, os pés, nossos tornozelos, movimentos circulares. Sinta a panturrilha, ela esta encostada ao chão? E os joelhos? Estão pra fora? Para dentro? Que parte do nosso joelho encosta no chão? Já repararam nas suas coxas? Ela esta plenamente encostada no chão? E quando você inspirava? Qual era o movimento da sua coxa? Fomos despertando parte por parte, lentamente, de todas as extremidades do nosso corpo. Depois do corpo devidamente despertado, Dani sugeriu que nos espreguiçássemos. Pernas para um lado. Braços para cima. Cada pessoa com o seu modo peculiar de se espreguiçar. O professor Rodrigo queria som. Saber qual era o ruído que o espreguiçamento de cada individuo fazia naquele espaço. As pessoas balbuciavam os mais diversos sons. Junto com o ruído, a movimentação do espreguiçamento ficava mais enérgica. Já não necessitávamos de ficar plantado ao chão. Podíamos ir pra onde o nosso corpo nos mandar. Aos poucos fomos nos colocando em pé, muito mais leves de quando estávamos iniciando o exercício. Dani propôs então, que caminhássemos pelo espaço. Fomos caminhando pela sala, com os olhos abertos e atentos, observando tudo que estava acontecendo a nossa volta.

Enquanto caminhávamos, Dani e Rodrigo sugeriam pequenos questionamentos sobre nós, o espaço em que estávamos e a nossa relação com as outras pessoas. Mais uma vez tínhamos que observar nosso corpo. Como ele se manifestava naquela situação? Como estavam os nossos pés quando pisávamos no chão? Pisamos com as pontas dos dedos? Com o calcanhar? Ou com o peito do pé virado pra fora? Como estava o nosso olhar? Dani disse que jamais deveríamos olhar pra baixo, sempre pra frente. Encarando. Começamos a nos encarar. Olhar no fundo dos olhos dos nossos companheiros. Precisávamos naquele momento trocar. Trocar um olhar carinhoso, uma energia positiva. Encaramos um por um. Até que nos encontramos com as paredes. É instigante ver que não é só uma parede, ela tem textura, buracos, escamações, falhas lineares, pequenas ondulações. E o piso? Gelado? Quente? Liso? Áspero? Será que alguém reparou que no fim da sala existe um ralo? E se reparou, porque aquele ralo estava lá? Observamos cada ponto da sala. Não com um olhar vazio, mas sim investigativo, profundo, penetrante. Tínhamos que ver alem. De repente Dani sugere que caminhemos um pouco mais rápido, e que no som de uma palma, parássemos, fechássemos os olhos e ela tocaria uma pessoa. Ela tocou algumas pessoas, e essas pessoas tinham que falar quem estava a sua volta. Um por um. Edna, Kátia Santos, Kátia Estevam, Raul, Ivan, Beatriz, Jefferson. Dani diz, cansei da brincadeira, vamos fazer uma roda.

Fizemos um grande roda e começamos a conversar. Dani começou falando um pouco sobre ela. Sua formação, seus trabalhos. Falou sobre o Grupo Gattu, grupo que existe há mais de 10 anos e tem como sede o teatro Gil Vicente, que fica dentro da universidade. Falou sobre o processo cênico que o grupo investiga, e aproveitou para divulgar sobre o espetáculo que ela vai reestreiar: Dorotéia, de Nelson Rodrigues. Disse que em uma breve oportunidade, faríamos uma aula dentro do teatro. Não há nada melhor para um ator, do que estar num teatro, pisar num palco. Ela disse em certo momento o quanto devemos respeitar o palco, a nossa sala, os nossos colegas. Teatro é sagrado. E temos que ser generosos. GENEROSIDADE. Para mim essa foi a palavra de ordem, a palavra da aula. Deveria ser a palavra da vida. O professor Rodrigo também falou sobre sua formação, seus trabalhos e de como via o processo cênico. Dani foi incisiva ao dizer que o trabalho só ira fluir bem, quando aqueles que não estiverem afim, ou na mesma energia que o restante saírem. E isso é a ordem natural das coisas. Nós fazemos teatro. Precisa ter arte correndo nas veias, então quem não estiver afim, cai fora. Lembrei-me de um antigo professor, da época que eu cursava publicidade. Ele dizia que universidade é pra poucos, e necessita de muita entrega, e pra quem quisesse oba-oba, que fosse fazer Gastronomia, porque pelo menos, se você não se entregasse de corpo e alma, você comia a aula no final como recompensa. Não que Gastronomia seja oba-oba, mas metaforicamente falando, existem pessoas que nasceram pra fazer comida, e outras pra comer. Dani e Rodrigo enfatizaram a importância de ouvir e se ouvir, e propuseram como lição de casa que nos ouvíssemos e ouvisse as pessoas ao nosso redor. Confesso que é muito difícil. Às vezes parece que colocamos no automático, mas é um estudo interessantíssimo. Temos que dialogar mais sobre isso.

Toca o sinal. Trinta minutos de intervalo. Dani diz que fecharia a porta para não haver possíveis transtornos com perdas de objetos. Colocamos nossos sapatos, pegamos nossos pertences e saímos.

Ao voltarmos do intervalo, fizemos novamente uma roda para darmos seguimento na aula. Nesse momento, Dani e Rodrigo falaram sobre o que seriam as aulas de expressão corporal e vocal. Falaram sobre os livros que teríamos que ler durante o ano, sendo eles: A dança, do Klauss Vianna; O corpo e seus símbolos, de Jean Yves-Leloup; A preparação do Ator, do Stanislavski; Uma voz para o Ator, de Eudosia Acuña Quinteiro; O Ator invisível, de Yoshi Oida; e Voz, partitura da ação, de Lucia Gayoto. Dani, após falar sobre os livros, comentou sobre os estágios obrigatórios. Temos que assistir muitas peças, mas com um olhar critico, analisando desde o trabalho cênico dos atores até a iluminação dos espetáculos. Rodrigo aproveitou o ensejo para divulgar o espetáculo que faria no próximo final de semana: A Celebration Service, de Meredith Monk (para quem não teve a oportunidade de assistir, fique sabendo que perdeu uma oportunidade única. Uma experiência divina.)

Estávamos próximos ao encerramento da aula, e mais uma vez Dani disse sobre a generosidade que necessitávamos ter com a gente e com o outro. E sobre a importância de saber ouvir. Dani então perguntou quem faria a ATA da aula para a próxima semana. Alguns segundos de silêncio. Troca de olhares. E eu me prontifiquei a fazer. Dani e Rodrigo encerram a aula. Aplausos.

Se joguem.
Beijos
Felipe

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